tipografia

Marina Morgan
2 min readFeb 10, 2023

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Queria ter uma letra bonita. Daquelas que são meio de forma, meio cursiva. Aquelas letras de jornalista de verdade, sabe? De filme. Acho que se eu tivesse uma caligrafia assim talvez eu também fosse uma jornalista de verdade.

Jornalista dessas que fazem matérias legais e grandes reportagens. Que fazem fotografias e produções audiovisuais de deixar o queixo caído. Que viram noites ao lado de garrafas de café ou copos de whisky, depende do dia. Isso, coisa de jornalista de verdade. Coisa que combina esse tipo de letra, meio de forma e meio cursiva. Esse tipo de letra que eu não tenho.

A minha letra não é assim. Não sei definir como ela é. É letra de quê? Não sei, ela me parece meio infantil ou feminina até demais, não me parece séria. Só sei que não é letra de jornalista de jornalista de verdade. Aposto que a letra da Eliane Brum não é assim. Nem a do Thomas Chiaverini. Do Capote então, nem se fala. Dos meus professores da UFOP? Jamais.

Será que ainda dá tempo de mudar minha letra? Aqueles cadernos antigos de caligrafia, será que ainda são vendidos nas papelarias de bairro? Se eu treinar muito, naqueles cadernos, será que eu também viro uma jornalista de verdade?

Se bem que talvez eu esteja sendo muito dura. Eu sou, pelo menos no papel, jornalista de verdade. Na casa dos meus pais tem até um diploma com meu nome: Marina Morgan da Costa. Ele é lindo, inclusive (falo do diploma). Mas será que meu nome é nome de jornalista de verdade?

Só sei que se eu viro a noite tomando café é pra escrever uns textos que me pagam muito pouco, e se eu viro a noite bebendo whisky definitivamente não é trabalhando. E eu nunca fiz fotos ou produções audiovisuais que fossem dignas de serem publicadas onde quer que fosse.

Acho que o problema é mesmo a letra.

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