A Avenida Cristiano Machado

Marina Morgan
2 min readJan 12, 2023

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29/11/2022

A avenida Cristiano Machado, em Belo Horizonte, é uma avenida feia. Além de ter poucas árvores (senão nenhuma), ela é hostil. Carros, caminhões e motocicletas passam a toda velocidade nas suas muitas pistas, que passam entre oficinas mecânicas, galpões de empresas, hipermercados, prédios e por debaixo de várias passarelas e viadutos.

Porém, dos viadutos da avenida Cristiano Machado eu gosto. Gosto porque quando os atravessamos lemos os nomes de grandes escritores dessa terra inconfidente: passamos por Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Rubião, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e Henriqueta Lisboa.

Sempre que passo por ali meus olhos se afastam do trânsito caótico e perigoso das pistas e se fixam nos nomes daqueles que fazem de Minas Gerais um estado de grande expressão no cenário literário brasileiro. Nessas horas até me esqueço da rapidez e do cansaço da cidade grande e me transporto para a Belo Horizonte de Eduardo Marciano em seu Encontro Marcado e para a Cidadezinha Qualquer do poeta e confidente itabirano.

Confesso que já pensei que deveríamos “trocar” esses viadutos de lugar — como assim o viaduto Santa Tereza não leva o nome de Sabino, que o eternizou em seu romance mais relevante? Por que não nomear o viaduto da Floresta de Henriqueta Lisboa, uma vez que a vista dele inspira muito mais poesia que os semáforos e faróis de uma movimentada avenida?

Pensei mais um pouco e vi que as coisas são o que são, e que na vida — como também nas obras desses grandes mineiros que me servem de inspiração — , a beleza não existe sozinha. Às vezes, ela aparece de relance no meio de muita feiúra, só para que não se perca a esperança de enxergá-la mesmo quando isso parece impossível.

E foi assim que passei a ver os nomes desses grandes escritores naqueles viadutos: como um pouco de beleza no meio da aridez da hostil avenida Cristiano Machado.

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